terça-feira, 8 de novembro de 2016

Muito, demasiado, excessivo - o problema das unhas de gel e demais variações

Há dias fui comprar pão e, enquanto aguardava a minha vez, dei por mim a olhar para a transumana que estava à minha frente ao balcão. Devia medir uns 146,5 cm de altura, mas tinha saltos agulha que pareciam catanas, portanto, assemelhava-se a um ameaçador arranha-céus de 2 metros. Tinha cabelos exageradamente compridos e exageradamente loiros com extremosas ondulações cuidadosamente urdidas em pontos estratégicos e umas calças de ganga cravejadas de demasiados brilhantes de demasiadas cores e exageradamente apertadas no quadril. Contudo, o que mais me chamou a atenção nem foram os saltos nem as extensões nem as calças nem mesmo o facto de cada pão custar 24 cêntimos. Nada disso. 

A senhora excessivamente maquilhada, com um dos caninos borrados de rosa-choque a fazer pandã com o batom que tinha esparramado nos lábios, e que, à primeira vista, parecia ter uns 40/45 anos, tentava, infrutífera e dolorosamente, abrir um pacote de adoçante. Tinha unhas que faziam lembrar os dentes aguçados de um jovem e saudável T-Rex Spielberguiano capaz de abrir um humano como se fosse feito de manteiga Becel e, no entanto, não conseguia abrir aquela delicada embalagem. A ironia! Cada uma das unhas dançava atabalhoadamente em torno do pequeníssimo pacote tentando encontrar a melhor forma de o degolar; cada unha meticulosamente pintada e pintalgada com bolinhas e coraçõezinhos e cachorrinhos e carateres chineses que ninguém sabe o que na verdade significam. Lá estava ela, aflita do alto dos seus 2 metros regamboleando-se no topo das suas catanas. Senti uma vontade súbita de lhe dizer para cortar o pescoço ao pobre com uma das garras adamastorianas para acabar com a miséria do coitado de vez. Comprei o pão, paguei e quando me vim embora, a mulher debatia-se com novo infortúnio: não conseguia apanhar a colher do balcão que lhe tinha caído do pires. 

Isto foram 5 minutos da vida daquela mulher, imagino as restantes 23h55. Que luta! Respeito. Muito respeito às mulheres de longas unhas artificiais.



sábado, 10 de setembro de 2016

Dor de Dentes

Só há uma coisa pior do que morrer. É ter dor de dentes. Passei uma noite desgraçada, de olho arregalado. Só pensava num amanhecer que nunca mais chegava. Devo ter adormecido por breves instantes, porque me lembro da vaga e etérea imagem de um dentista rodeado de uma aura celestial, sorriso tilintante e de broca na mão. Acordei de madrugada com o meu filho mais velho no meio da cama e assim me deixei ficar com ele, sem que a dor me abandonasse por tempo suficiente para conseguir dormir. Pouco depois raiava o sol.

Fui à página do consultório do meu dentista para me certificar do horário de abertura. 9h. Olhei para o relógio. Faltavam 7 minutos e meio. Doía-me tudo. Engoli meia dúzia de analgésicos. Sentia o rosto pulsar a cada inspiração. Os ponteiros do relógio batiam a cada latejar inflamado de dor que me irradiava da boca e alastrava-se pela garganta, pelo ouvido e pela cabeça. Acho que até o dedo mindinho do pé direito me doía. Pensar era doloroso. Atar um cordel ao dente, agarrá-lo a uma maçaneta da porta e fechá-la com força já fora uma hipótese mais remota. 9h01. Peguei no telefone e liguei.

O telefone tocou. Uma, duas vezes… – Por favor atende! Seria feriado? O Natal é em dezembro, não é? - Três vezes. Quando atendeu após o quarto toque e uma voz feminina monocórdica me disse que só havia consultas na última semana de setembro, morri por dentro três vezes. De certeza que não lhe doía dente nenhum. Uma lagrimazinha espreitou no canto do olho. Não ia aguentar. A morte mil vezes! “Espere, não consigo arranjar vaga com o seu dentista, mas o Dr. X pode atendê-la hoje às 18h”, disse ela de súbito. Hoje. A palavra mais bonita do mundo. “Sim, claro.” Se me dissesse que a senhora que lá ia limpar os vidros estava livre para me arrancar um dente ou dois com a chave de fendas do marido desempregado eu aceitava na hora sem pensar duas vezes. Agradeci-lhe 20 vezes e tomei mais meia dúzia de analgésicos.

O resto do dia foi cirurgicamente cronometrado. As dores eram cada vez mais intensas e estava tão cansada que nem tinha forças para me queixar com as devidas interjeições dramáticas. Questionei várias vezes a necessidade divina de atribuir dentes aos humanos para depois os encher de buracos quando esses humanos até lavavam os dentes religiosamente três vezes ao dia, usavam fio dental e ainda bochechavam uma mistela verde antes de deitar. Sim, essa era eu.

Mas bem, pouco antes das 18h, e mais meia dúzia de analgésicos depois, lá apareci eu no consultório com cara de pedinte. Fui convidada a entrar pouco depois. Depois de um raio-x, o dentista disse que tinha de desvitalizar. Levantou a seringa da anestesia no ar e eu desejei aquele líquido milagroso mais do que alguma vez desejei o que quer que fosse na vida. Até mais do que a Bimby. Momentos depois a dor desaparecera. Não fosse pela vergonha e dava um abraço ao homem. Depois de me abrir a boca de forma desajeitada e de me babar algumas vezes durante o processo, lá começaram os trabalhos manuais. “Está tudo bem?” perguntava ele, de vez em quando. “Mmm, mmm”, balbuciava eu enquanto ele me furava de um lado, a assistente me aspirava a boca do outro e enquanto isso ia imaginando uma das cenas do filme “O Dentista” que eu nunca tinha conseguido ver até ao fim.


“Desculpe, foi um nervo.” Eu sei! Eu senti! Ele e a assistente às vezes falavam como se eu não estivesse presente. “20, Dr.?” “Não, penso que 19 será suficiente.” Que será que me iam fazer 19 vezes? Medo. Até podia perguntar, mas tinha a boca ocupada. A tarefa parecia interminável. Mexe ali, mexe acolá. Enfia objeto comprido e brilhante nº 1, enfia objeto compridoe barulhento nº 2 e lá continuava eu sentada na cadeira, tesa e de punhos cerrados - apercebi-me eu a determinada altura. Tentei relaxar as mãos e estendi-as por cima das pernas, mas penso que o resultado não me fez parecer mais descontraída. “Está tudo bem?” Acenei um sim silencioso com os olhos. Sentia a saliva juntar-se, mas era difícil engolir com tanto instrumento e mãos dentro da boca deformada. Cerca de 40 minutos depois a provação tinha terminado. Quando me sentei na cadeira e o dentista se pôs a falar comigo descontraidamente pensei: “A vida é tão mais bonita quando não nos dói um dente.” E é mesmo. Tudo ganhou outra cor. O segredo da felicidade é esse. Não ter dores de dentes. 

sábado, 6 de agosto de 2016

Dedicado às pessoas que roem unhas (coisa que se chama Onicofagia)




Olá. Chamo-me Marlene. E sou roedora de unhas desde os 6 anos.

Olá, Marlene!

Este vício deu cabo da minha vida. Às vezes, isolava-me da sociedade para roer - só - mais um bocadinho, só mais aquela pelezinha que só quem rói sabe como tem de ser imediatamente arrancada ou o mundo acaba naquele mesmo instante. Não convivia com ninguém, porque tinha sempre os dedos na boca e não se fala de boca cheia, como é de boa educação. Acenava com a cabeça para dizer que sim e que não e a minha vida social resumia-se a isso. Às vezes tirava os dedos da boca para beber uma cerveja. Poucas vezes. Quando me encontrava com outros roedores, entendíamo-nos no silêncio. Eu roía, eles roíam. Só se ouvia o esporádico “cric” da unha a saltar. Por vezes partilhávamos lenços para estancar alguma hemorragia acidental. Sorríamos e prosseguíamos com a tarefa pesarosa de Sísifo. E no sossego do nosso colóquio éramos felizes, mas escravos daquele vício mundano.

Em casa, roía às escondidas. Percebi que estava doente. Os meus pais já não me reconheciam, o meu homem tinha as mãos mais arranjadas que as minhas, toda a gente sabia que algo de muito mau se passava, mas ninguém me conseguia ajudar. Enclausurava-me no quarto e roía como se não houvesse amanhã ao som de Radiohead e depois trabalhava de luvas porque as pontas dos dedos doíam enquanto teclava. O sofrimento era desumano! E era nessa altura que surgia a vergonha, principalmente quando tinha visitas e me viam de luvas de lã em agosto. Mas mal aparecia outra pontinha de unha para roer a vontade falava mais alto. Uma vez decidi pôr unhas de gel. Mas unhas compridas não dão jeito nenhum. Quem já trabalhou no comércio sabe como é difícil apanhar trocos com garras de metro. Espalhar Halibut no rabinho do bebé também não é tarefa fácil para não falar de outras coisas que não se podem dizer por aqui. Além disso, andava toda arranhada e amigos e conhecidos temiam pela vida de cada vez que eu gesticulava não lhes fosse apanhar a jugular durante um "esbracejamento" qualquer. 

Dez unhas controlavam-me. Felizmente nunca tive a agilidade necessária para chegar às dos pés. Cheguei a uma altura da minha vida que disse: “Chega!”. Gastei o dinheiro todo em vernizes “inibidores do hábito de roer unhas” – como os ditos erradamente se chamam   de várias marcas acessíveis de supermercado. Sabiam mal no início, confesso. Contudo, uns minutos depois e já os papava com ávida lambarice até me saberem a granola de frutos vermelhos (a minha preferida). Percebi que a minha vida tinha de mudar. As unhas levaram-me tudo. Só me restava a vontade de roer cada vez mais unhas e a infelicidade de não poder usar o verniz da moda a combinar com o batom de fácil aplicação da Kiko que comprei a 3,90€ nas promoções.


Mas tudo mudou. Chamo-me Marlene e já não roo unhas há 7 dias :) 

quarta-feira, 27 de julho de 2016

Noites mal dormidas, dias mal pensados

Este calor insuportável anda a dar cabo da minha sanidade mental. Ou chove a cântaros ou está um calor que não se pode. Não sei o que aconteceu à Primavera e ao Outono. Então de noite é para esquecer. Adormeço quando devia estar a acordar. Há umas noites estava eu cheia de calor – como sempre – deitada na cama completamente destapada e pegajosa e a dizer mal da minha vida enquanto virava para um lado e revirava para o outro - ao som de um mosquito corajoso que andava claramente a gozar com a minha cara e que deve desconfiar que sou membro da Associação Portuguesa de Direitos dos Animais - e lembrei-me que em miúda, mesmo em pleno verão, dormia sempre toda coberta, cabeça e tudo, com medo que algum bicho me entrasse por algum ouvido. Que coisa estúpida. Não sei de onde surgiu essa memória, nem sei porquê o ouvido, mas se eu fosse um bicho, de todos os buracos do corpo humano que existem, seria pelo ouvido que entraria num humano de certeza absoluta. E levava comigo um fato de mergulho, pinças, lanterna e desinfectante em spray. 

Mas bem, como estas noites mal dormidas são sucessivas, o meu raciocínio sai afectado (agora tenho essa desculpa). Há bocado, estava eu a preparar um lanchinho de leite com cereais e o meu filho de 2 anos disse de forma assertiva: “Caca, mamã.” Ao que eu respondi, muito eloquentemente: “Não é nada caca, é leite com cereais.” E ele responde-me de sobrolho franzido e clara indignação na voz: “Não! Tem caca no cu, vês?” E empinou o rabiosque para mim para que pudesse comprovar o lamentável e fedorento sucedido.

Ah pronto, desculpa lá! Foi um mal-entendido, sim?  Epá, preciso mesmo de dormir… E de lhe explicar que “cu” não é socialmente aceitável, só rabinho J

sábado, 25 de junho de 2016

Pesadelo

Hoje acordei suada, atarantada e assustada. Tive um sonho terrível. Daqueles capazes de nos deixar a balançar intermitentemente a um canto da casa de olhar posto no vazio, tal como depois de ouvirmos o hino do Pedro Abrunhosa. Acordei, engoli em seco, ainda a tremelicar de tamanha inquietude…. E fui lavar os dentes.

PEÇO DESCULPA ÀS LEITORAS MAIS SENSÍVEIS PELO CONTEÚDO GRÁFICO DA DESCRIÇÃO QUE SE SEGUE.

Sonhei que tinha ido a um festival de música de verão qualquer com o meu homem e que lá ia passar a noite (sendo que “lá” nunca foi lugar tornado específico pelo meu subconsciente, por isso desculpem-me a inexatidão geográfica). A meio do sonho tive de usar as casas de banho públicas do dito festival, porque estava à rasquinha. Entretanto, estando eu ainda a fazer xixi, começam a tocar os Xutos e Pontapés. Logo depois, lembrei-me que não tinha levado nem base nem secador. Se o meu sonho fosse um filme, era mais ou menos nesse instante que a câmara se ergueria acima de mim enquanto eu rodava histérica sobre mim mesma e bradava aos céus de braços levantados.


Bom dia J

quinta-feira, 9 de junho de 2016

Férias!


Engane-se quem pensa que ir de férias com duas crianças de 2 e 4 anos – ou vice-versa – é como nos filmes. Bem, até que pode ser... Se estiverem a pensar assim num mix entre “Massacre no Texas” e “Pesadelo em Elm Street” com direito às sequelas todas, mas sem a motosserra.

Na viagem de avião, trocámos de papéis. Em vez de serem eles a perguntar de meio em meio minuto se já tínhamos chegado, era eu. Entre gritos, pontapés, baba, ranho, granola a voar e vários subornos açucarados e desesperados vindos de vários passageiros assim decorreu a violenta e inesquecível viagem de hora e meia até à Madeira. Quando lá cheguei, só conseguia pensar na viagem de regresso. Será que ia ter de levar com aquele circo todo mais hora e meia? O meu pobre coração não aguentava mais uma viagem daquelas. “Mas depois penso nisso”, animei-me eu com uma palmadinha nas costas, “Já passou, já passou”, cantarolei mentalmente. Finalmente poderia descansar agora que estava em terra. Nada poderia ser tão mau como aquela viagem. Pensava eu, em toda a minha ingenuidade...

Ora bem, conseguir fazer uma refeição com os dois sentados era mentira. Sentar para comer é para fracos. A melhor refeição que lá fiz foi quando ambos adormeceram no restaurante. Maravilha! J A pior foi com o mais novo ao colo enquanto sorvia a comida de pé (nem sei o que comi) para depois chegar ao quarto e levar com o vomitado do mais velho em cima. Maravilha! J

Mas eles não se ficam pelas refeições: dormir também é para fracos… Bem como vestir, lavar dentes, andar de carro, subir escadas, descer escadas, entrar em elevadores, carregar em botões (todos, todos, todos), respirar… Tudo era motivo para fazer mais uma birra. Não sei que se passou. Ainda hoje desconfio daquelas bananas. E o melhor mesmo era a porta do quarto do hotel não permitir trancar por dentro, bastava rodar a maçaneta e eis que todo o hotel estava à disposição o que resultava em breves fugas do mais novo pelos corredores com o pai em cuecas a persegui-lo. Felizes das velhotas que puderam testemunhar aquele momento.


Só vos digo uma coisa: ir de férias cansa. Só volto a fazer férias em 2050!

terça-feira, 24 de maio de 2016

Teoria do bebé que obedece

Li algures que um bebé de 2 anos é capaz de compreender e obedecer a ordens básicas. Claro que o artigo não referia que essa "ordem básica" poderia ser totalmente ignorada se entre a ordem dada e o objectivo a cumprir estivessem pelo menos uns 20 degraus, porque o que acontece é que à medida que o bebé vai subindo degraus decidido a cumprir a dita ordem, esta se vai tornando cada vez mais difusa até se desvanecer por completo da sua mente totalmente dispersa.

Hoje, o Sam de 25 meses (esta mania dos meses que não passa) chegou ao pé de mim e disse com cara de nojo por entre a chupeta: "Caca." Pois claro, que mais poderia ser. Estranhava era se me viesse dar uma boa notícia. Achei que a altura era mais que apropriada para testar a teoria das ordens básicas, ainda por cima sendo que mais básico que fazer cocó impossível. "Vai buscar uma fralda", disse-lhe eu apontando para as escadas. "Faulda?". Isso, isso. E lá foi ele pé ante pé, muito feliz da vida por ter sido incumbido de tão nobre tarefa.

Dois minutos depois, ouço-o descer as escadas. "Pega", disse ele. Claro que fralda nem vê-la. Felizmente, trouxe-me uma t-shirt do Homem-Aranha e a escova de dentes do irmão (esperto!) que é o que não pode faltar quando se trata de limpar uma fralda radioactiva de cocó ainda fumegante.

Eu bem que tentei evitar subir - outra vez - as escadas em nome da ciência, claro está, mas lá teve de ser... por isso que se lixe a teoria do bebé que obedece. Deve ser tão real como o coelhinho da Páscoa.

sexta-feira, 20 de maio de 2016

Bom dia!

Sabem qual é a melhor forma de levar com um iogurte líquido no focinho sem ajuda? Vou explicar:

Primeiro passo: Pegar num iogurte líquido ligeiramente aberto que - por acaso e de forma suspeita - o vosso marido deixou na bancada da cozinha.

Segundo passo: Olhá-lo nos olhos, de mulher para iogurte, e deixá-lo sentir que dentro de momentos lhe irão sugar a vida leitosa e nutritiva todinha que preserva dentro daquele frágil corpinho de plástico.

Terceiro passo (opcional): Soltar riso maquiavélico acompanhado de um ligeiro inclinar da cabeça.

Quarto passo: “Agitar antes de beber”, tal como diz o rótulo. Contudo, não se fiquem pelo mero “agitar”. Não. Isso é para meninas. Sacudam-no vigorosamente enquanto largam ganido à Bruce Lee para lhe mostrar quem manda. Se não estiver aberto garanto-vos que corre tudo bem, no meu caso levei com ele nas trombas que é para aprender a não me armar em Indiana Jones logo pela manhã.

Bom dia. 

quarta-feira, 18 de maio de 2016

Tácticas para se enfiarem na nossa cama

Se há coisa que não me posso queixar é das noites. Ambos os meus filhos – entenda-se os dois J –  adormecem sozinhos minutos depois de os deitar. Nem sempre foi assim. Aliás, não é à toa que as olheiras até ao queixo são a minha imagem de marca. Dica: corrector + duas bases costumam funcionar. Dica2: não esquecer de fazer o mesmo ao resto da cara para não assustar o senhor da frutaria que me perguntou se tinha alguma doença de pele e que a filha se tinha ido tratar a França.

Tantas vezes acordaram, tantas vezes me levantei e deitei e levantei e levantei e levantei (sendo que aqui a palavra chave é levantar) que conheço os contornos desta casa de olhos fechados. Guio-me pelo som da choradeira e ainda recorro à ecolocalização que aprendi a dominar num programa da National Geographic. Acho que nos primeiros tempos passava mais tempo no corredor entre os quartos do que propriamente dentro de algum, porque normalmente aquela tábua ali à entrada do meu quarto - que tem claramente alguma coisa contra mim - fazia um barulho qualquer que acordava algum deles.

Mas estávamos a falar de quê? Ah, sim! Então por volta das 22h, é hora de picar o ponto. Um vai agarrado a quatro bichos (mais especificamente um tigre, um cão, um sapo e um elefante a quem chama carinhosamente de “Bu” e que está desaparecido há cerca de 2 semanas); o outro vai agarrado a duas fraldas de pano criteriosamente seleccionadas da prateleira das nanas pelo próprio após preenchidos os exigentes requisitos: a) cheiro, b) cor, c) consistência e c) suavidade ao toque. É quase como degustar um bom vinho e sendo o meu filho um “pro” nesta degustação de nanas leva cerca de 5 minutos a analisar todos os critérios. Eu cá só percebo mesmo de vinhos, portanto não vos posso elucidar muito mais acerca desta arte.

Ultimamente, o meu filho mais velho, de 3 anos quase 4, tem inventado uns pretextos curiosos, alguns diria mesmo que roçam o paranormal, para se vir enfiar na minha cama. Deixo abaixo a lista das desculpas mais criativas que tem usado ultimamente:

#Sofrimento
I-Tenho dói-dói na “baguiga”;
II-Tenho dói-dói no pé e na minha cama dói MUITO, MUITO e na tua só dói um “caguinho” (=bocadinho);
III-Dói-me a boca quando fecho os olhos (perfeitamente compreensível, a quem nunca isto aconteceu que atire a primeira pedra);
IV-Dói-me o cabelo.

#Bodes Expiatórios
I-A vovó prometeu que hoje dormia aqui (primeiro bode: a avó);
II-O meu ouvido está sempre a falar e não me deixa dormir (segundo bode: as vozes).

#Negligência
I-Tenho uma unha grande;
II-Ainda não comi uma coisa! (depois de ter enfardado 2kg de arroz, meio frango, ¼ de melancia e um iogurte);
III-Esta mão tem frio;
IV-Só me deste um beijinho nesta cara (esquerda) e a outra (direita) ficou muito “tiste”.

#Subornos
I-Mas eu gosto tanto de ti, mamã! (esta por norma funciona sempre, raio do rapaz que me descobriu o calcanhar de Aquiles)

#A Completamente Esfarrapada
I-Já dormi muitas vezes! Não é para dormir sempre!

Boa noite J




Procura-se elefante cinza com um chapéu demasiado pequeno para a cabeça e com orelhas ridiculamente grandes. Dá pelo nome de “Bu”. Da última vez que foi visto, tinha duas manchas de chocolate na tromba. Contacte por favor a blogger caso possua mais informações acerca do seu paradeiro. Grata.

quarta-feira, 11 de maio de 2016

Dia da Mãe

Hoje comecei o dia de forma pacífica, como qualquer outra mãe, a correr atrás do meu filho de 3 anos, que primeiro não se queria vestir e depois de tomar o pequeno-almoço decidiu correr casa fora em desvario como se a vida dele dependesse disso. Por meio de gritos e gargalhadas aconteceu o inevitável: primeiro acordou-me o meu filho mais novo, que eu esperava que dormisse pelo menos até às 9h (uma gaja pode sonhar, ok?) e logo depois regou-me o chão e a roupa que lhe tinha acabado de vestir (e de passar na noite anterior com tanto custo) de vomitado - daquele bom e cheirosinho que já me habituei a limpar em média uma vez por semana - após um ataque de tosse incontrolável. Facto: um iogurte de 125gr meio digerido consegue sujar cerca de 10m2 de chão. Respirei fundo e fui buscar a minha velha amiga esfregona e ainda tive de lhe trocar de roupa, que era mesmo o que me apetecia fazer às 8h. O dia começava bem.


Ora bem, à tardinha quando veio da escola quase que se ia redimindo. Quase! Eis que me aparece de saquinho colorido na mão e de sorriso rasgado. “Pega, abre! É para ti, mamã”, dizia ele de olhos a brilhar. Era a minha prenda do Dia da Mãe! Que emoção! Só veio atrasada 10 dias, coisa pouca para português filho de portugueses. Que orgulho! A minha primeira prenda do Dia da Mãe feita pelas mãos habilidosas e gorduchinhas da minha primeira cria! Abri o saquinho com cuidado e… tentei conter o ataque de riso. “Gostas, mamã?” 















Gosto tanto, filho :)




(PS. Só preciso de um bocadinho de cola...)

terça-feira, 10 de maio de 2016

De patrocínios precisava eu...

Agora anda tudo a pedir perdão à Carolina Patrocínio porque parece que a rapariga tem ossos a mais. Até já dizem que é bullying. Não sei o que é maior perda de tempo, se a notícia do peito ossudo dela, se a notícia em que fazem dela uma mártir em prol da defesa dos direitos das mulheres. O certo é que se perde tempo com o decote dela – passo a vida a levar com (o espaço entre) as mamas dela sempre que abro o Facebook. E o mais interessante é que agora todos lhe pedem desculpa.

O melhor mesmo é começarmos também por pedir desculpa à Lili Caneças, que coitadinha todos os dias é alvo de alguma piada jocosa nas redes sociais só porque fez outra operação plástica ao dedo mindinho do pé e já agora à Pépa Xavier tão criticada só porque quer uma bolsa Chanel de 3 mil euros. Uma gaja já não pode sonhar – alto - que leva logo com tudo em cima. Que horrrrrror! E à nossa Ana Malhoa? Quem pede desculpa? A cantora latina mais turbinada da Europa e de algumas ilhas da Tailândia? Todos os dias lhe chamam de parola, acham que é fácil viver assim? Quem lhes pede desculpas a elas? Coitadinhas. A sério, coi-ta-dééérrimas! Já imaginaram a pobre vida que esta gente leva? Não há descanso.

A vida dificílima, a dúvida constante sem nunca saberem qual a próxima passadeira vermelha a que vão, os terríveis obstáculos e provações que têm de enfrentar todos os dias no mundo impiedoso das redes sociais. Ser "socialite" (e cantora pimba) tem destas coisas, meus queridos. As pessoas pensam que é fácil ser rica e famosa e linda e falada e magra. Não imaginam as artroses todas que as sessões de autógrafos causam, a dor no braço para tirar as “selfies” #semfiltros mais perfeitas, as infindáveis noites de saltos altos a comer “canapés” de salmão e rolinhos de sushi por entre sorrisos ensaiados, as horas intermináveis no ginásio, as viagens, os spas, os vestidos de estilistas que lhes passam a vida a querer oferecer - é uma chatice, acho eu que vou aos saldos da Zara feliz da vida.


Talvez um dia as pessoas se lembrem de pedir perdão às pessoas certas e por coisas menos triviais que os efeitos "bicudos" de demasiadas visitas ao ginásio que não interessam a ninguém ou não deviam interessar, tanto, pelo menos. Enfim... Deixem lá a rapariga. Ela que malhe no ginásio e seja feliz para todo o sempre... ou pelo menos até à próxima foto polémica.

sexta-feira, 29 de abril de 2016

A minha bolsa

Todos os homens se perguntam a determinada altura da vida: “Mas que raios traz ela na bolsa?” Até porque muitas vezes, principalmente durante a corte, são eles mesmos que as carregam (isso passa-lhes um mês ou dois depois). Nós mulheres, em contrapartida, não sabemos como os homens conseguem sobreviver sem uma bolsa. Eu não consigo. A vida deixaria simplesmente de fazer sentido.

Diz um estudo que o peso médio de uma bolsa feminina ronda os 2,700kg. Impressionante, não é? Esse era quase o peso do meu primeiro filho quando nasceu. Não estou a inventar, é mesmo verídico. Conseguimos mesmo enfiar 2,700kg de merdas dentro das nossas bolsas e o mais curioso é que nem sequer sabemos o que lá estão a fazer pelo menos 2,500kg, mas carregamo-los com orgulho.

Mas ainda mais interessante do que a bolsa de uma mera mulher, é a bolsa de uma mulher com filhos. Aí sim, é abrir a caixa de Pandora e esperar pelo melhor. Por isso mesmo, hoje decidi abrir a minha bolsa e revelá-la ao mundo. Foi fascinante, foi quase como uma escavação arqueológica. Amanhã tenho de levar a vacina do tétano, mas valeu a pena o sacrifício.

Então os objectos encontrados foram os seguintes:

-Espelho para ver se tenho alguma coisa nos dentes, imprescindível. Visto que quando isso acontece ninguém me avisa. Uma pinça para qualquer eventualidade ou arrombamento casual. Amostra de um perfume que não posso comprar porque tem um preço ridículo. Lip gloss, batom do cieiro, batom “Nude” da moda. Pulseira partida;


-Carteira, que não abro porque tem 1000 cartões diferentes de coisas que nem sequer sei o que são nem para que servem;


-Toalhitas para limpar baba, sapatos, vomitado, mobiliário, bancos do carro, roupa, ranho, etc, etc;


-Lenço de papel usado;

- Mais uma série de lenços de papel usados;


-Os personagens todos de um filme que já chateia;


-Dois Homem-Aranha, pelo sim pelo não;


-Uma porca;


-O cartão de um hotel onde nunca estive (?);


-Dois chocapics (provavelmente um para cada filho);


-Uma colher;

-Um brinde que me saiu num bolo-rei provavelmente em 1990;

-Um rebuçado cuja validade expirou na mesma altura que encontrei o brinde no bolo-rei;


-Papéis;

-Tiras de tornozelo de uns sapatos de verniz que andavam perdidas desde o baptizado dos meus filhos em 2014 (fartei-me de as procurar, yay!);


-Um soldadinho sem um pé;


-E um balão que dá sempre jeito.



segunda-feira, 25 de abril de 2016

Lista de nomes populares para quem vai procriar hoje ou nos próximos dias

Após uma extensa investigação (foram garantidamente doze minutos e três quartos, com uma breve pausa para ir à casa de banho, elemento recorrente dos meus textos) e consciente do meu extremo bom gosto, divulgo agora a tão-esperada-lista dos nomes mais populares para 2017. Eu sei que vocês estavam em pulgas. Não desesperem mais. Escolham um dos seguintes nomes para os vossos filhos e asseguro-vos que todos os dias lhes roubam o dinheiro da merenda da escola. Não precisam de agradecer.

Lembro, contudo, antes de começar, que em Portugal nem todos os nomes são permitidos como sabem, pois temos de pensar na dificuldade de pronunciação e no respeito pela língua. Não é só porque se vos dá na gana que podem chamar aos vossos rebentos coisas como sei lá… Lyannii ou Lyonce Viiktória, inventados agora de repente. De qualquer forma, os nomes que se seguem são muito, MUITO melhores. Agarrem-se às cadeiras que isto vai ser emocionante.

Esqueçam as Marias Leonores e os Martins Salvadores. Para quem gosta de nomes compostos há o sempre elegante “Ursa Castorina” para pais amantes de animais e “Ordonho Dólique” para… Pais com uma situação psiquiátrica muito especial.

Para pais com queda por assassinos em série, “Luzinira Michele” (a stripper revoltada) ou “Susete Sofia” (a dona de casa turned bad); para menino “Janardo José” (o homem que gostava de comer tremoços e um dia comprou uma espingarda nos ciganos) ou “Garibaldo Evangelista” (o padre com dúvidas existenciais que transformou uma missa das 7h num massacre sanguinário).


Temos o “Azuil” e a “Gloriosa” para pais de clubes distintos. E para nomes que façam pandã temos os manos “Sindulfo” e “Simoneta” (que rima com…); “Xisto” e “Cidalisa” são outra combinação improvável como aquela receita do Avillez de iogurte com sarrabulho. As opções são tantas que podia ficar aqui a noite toda, mas tenho os meus dois filhos com nomes démodé para dar banho, por isso o resto fica para outro dia. 


sábado, 23 de abril de 2016

Oh Happy Day!

Desde a vinda dos picheleiros cá a casa, isto tem andado paradito no que toca a enredos emocionantes. Contudo, a sanita parece que já está outra vez kaput, lixada, entupida sei lá! Com a quantidade de intestinos afinadíssimos que andam cá por casa, não há sanita que aguente. E bem, como ainda solta uma gotinha ou duas como no anúncio das outras senhoras de meia-idade que não se podem rir, o mais certo e inevitável é que um dia destes tenha de voltar a enfrentar a cara de nojo dos dois simpáticos senhores que tratam das sanitas das pessoas e que de certeza nunca mais esquecerão a minha cara ou aliás, o meu cocó, que não era meu, mas que eles pensaram que era embora não fosse. Quero deixar isto bem claro. NÃO FUI EU!

Mas bem, como dizia, isto anda fraquinho, e o ponto alto da minha sexta-feira foi uma ida ao supermercado (já vos digo porquê). Feitas as compras, dirigi-me às caixas e fiz aquilo que toda a gente faz, procurei pela caixa com menos gente. Esperei. Olhei à volta e a caixa do lado pareceu mais rápida. Mudei-me rapidamente para lá, com um carrinho que fazia "nhhhiii nhiiii" de cada vez que virava à direita. Satisfeita pela minha rápida tomada de decisão, sorri para dentro e enchi o peito de orgulho... Para logo o desinchar outra vez. 

A gaja da frente tinha 1000 cupões de desconto, se não eram 1000 eram 999. E claro que a senhora da caixa, simpática que era, dizia-lhe de que desconto a senhora podia usufruir caso possuísse algum dos artigos mencionados no desconto e que a senhora pelos vistos não fazia ideia se tinha comprado ou não. "25% desconto em carne picada". Passava o cupão. Piii. Momento de suspense. "A senhora não leva carne picada.", dizia ela com uma voz fanhosa enquanto se ria com os dentes todos da boca. "15% desconto em caixas de papel higiénico com cheiro a rosas selvagens cultivadas na Tasmânia e colhidas por um monge tibetano que por acaso estava de passagem." Piii."Que pena, parece que não leva papel higiénico." E claro que meia dúzia de coisas não tinham código e era preciso chamar não-sei-quem que vinha de não-sei-onde para resolver aquilo. E enquanto isso lá desesperava eu com o meu triste fado. Mas por que raios levamos sempre com uma destas quando estamos com pressa? Já fiz esta mesma pergunta a deus tantas vezes…

Adiante, 53 minutos e meio depois, lá saí do supermercado. Para além das compras ainda trouxe um tremor miudinho na pálpebra esquerda resultado dos nervos acumulados. Mas isso foi ontem, hoje é um dia feliz, muito feliz, porque o meu bebé-mais-quininho faz 2 anos e por ele voltava a levar com aqueles cupões todos e mais alguns e ainda degolava um dragão e meio no processo com o meu cartão de descontos do dito estabelecimento comercial só para lhe poder comprar granulado de chocolate para lhe fazer os cupcakes de cenoura com que tanto gosta de se lambuzar.


 2 anos, 24 meses, 104,36 semanas, 730 dias, 17520 horas, 6372000 segundos.

Parabéns, S :) 



Memo to self: Comprar papel higiénico com cheiro a rosas selvagens cultivadas na Tasmânia e colhidas por um monge tibetano.

sexta-feira, 22 de abril de 2016

O Boné do Homem-Aranha

Sabem aquelas noites revigorantes que nos enchem a alma e o corpo de energia e nos deixam prontos para enfrentar o corrupio do dia seguinte? Pois, eu também não.

Às 3h da manhã, aparece-me o meu filho mais velho no quarto. Não tenho a certeza das horas, mas o meu corpo dizia-me que eram 2h45/3h. Disse que tinha medo. Perguntei de quê enquanto ainda bocejava. Não sabia, mas tinha medo. Lá o deitei na minha cama e ali ficou umas horas até o P. o levar para a cama dele outra vez. Infelizmente, a nossa cama “ikea-size” não dá para muito mais que duas pessoas de estatura mediana sendo que uma com IMC necessariamente inferior a 18,5. E como o meu filho gosta de dormir em posição “anjo de neve” acabo a dormir com a bochecha esquerda em cima da mesinha de cabeceira.

Por volta das 7h da manhã - a minha bexiga assegurou-me das horas - aparece ele outra vez no quarto porque tinha feito xixi. Toca de lhe tirar a roupa. Deito-o na nossa cama para podermos desfrutar de mais uns minutinhos em estado de semiconsciência. Toca o despertador e começam as birras.

1-Queria o boné do Homem-Aranha;
2-Não era aquela camisola azul que ele queria;
3-Não eram aquelas calças que queria;
4-Nem aquelas meias;
5-Muito menos aqueles sapatos;
6-Ainda não tinha o boné do Homem-Aranha;
7-Não queria ir à escola porque já tinha ido ontem;
8-Não queria comer o iogurte;
9-Queria comer o iogurte;
10-Não queria mais iogurte;
11-Afinal queria o resto do iogurte;
12-Ainda não tinha o boné do Homem-Aranha;
13-Só tinha um brinquedo numa mão e a outra mão não tinha nada;
14-O casaco tapava a camisola azul que ele não queria no ponto 2;
15-Queria levar a mochila às costas;
16-A mochila era muito pesada.
17-Já não queria o boné do Homem-Aranha.


Isto tudo antes das 9h da manhã. O dia promete J

quinta-feira, 21 de abril de 2016

O real benefício do Arroz Integral (aquele de que ninguém fala)

Em seguimento do texto de ontem que podem ler aqui, hoje venho falar-vos de um assunto sério que ultimamente tem sido tópico de debate nas redes sociais. A alimentação saudável. Tenho tentado desde há algum tempo seguir um regime alimentar mais adequado (diz a gaja que acabou de comer dois pães besuntados em manteiga carregada de sal e ainda piscou o olho ao saco dos marshmallows). Todos sabemos os benefícios de se comer mais fruta e vegetais, menos ou nenhuma carne, mais cereais (a não ser que sejam paleo) etc etc, mas não nos contam o resto. Vou passar a explicar.

Ontem foi um daqueles dias em que olhei para um saco de arroz integral que ali tinha e disse em ar desafiador: “É hoje que te vou comer.” Já tinha cozinhado aquilo uma vez e a coisa não correu lá muito bem, parecia que estava a mastigar pregos, que como devem imaginar não é muito agradável - a não ser que se sofra de Pica. Descobri que o dito arroz deve ser demolhado umas quantas horas para se conseguir cozinhar convenientemente. Foi isso que fiz logo de manhã e ali ficou até à noitinha para o jantar. À noite fiz um belo de um arroz integral com uvas passas (chique), tomilho, cebolinho e coentros. Ficou muito bom. Rapámos o tacho todo e esfregámos a barriga à lordes. E nenhum animal sofreu durante a confecção do nosso jantarinho pouco português.

E agora os tais benefícios. O arroz integral é rico em fibra o que significa que ajuda a regular o sistema digestivo. Dito por miúdos, é óptimo para aqueles que #cagamgrosso e sofrem de hemorroidas (que é uma palavra carregada de musicalidade e tão desprezada pelos blogues) e para os seus vizinhos que #cagamfininho (esta roubei a uma amiga minha). O que acontece é que a fibra faz amizade com a tripa e mantém as nossas entranhas lindas e fofas. A sério! O que se seguiu foi uma belíssima noite de sono e era a este benefício que pretendia chegar.


Não sei o que se passou, mas sonhei que o Johnny Cash andava em procissão pelas ruas de Braga com uma comitiva de Gigantones e Cabeçudos de Viana. Eu - não sei porquê – tinha um penteado à Marilyn Monroe e estava a vê-lo passar muito ansiosa. Lembro-me de estender um tapete com o mapa do mundo no chão para Ele passar (tem de ser com maiúscula, é o Johnny minha gente). Nesse momento, virei-me na cama e mandei uma cabeçada ao P. que continuou a dormir como se nada fosse. Raios, nem uma musiquinha ouvi! Fica para a próxima, vou já demolhar mais meio kg para comer logo à noite ao som de Folsom Prison Blues :) Agora já sabem, se quiserem ter sonhos bons, comam arroz integral.

quarta-feira, 20 de abril de 2016

Manhã de caca

O seguinte tópico contém termos da gíria com sinónimos equivalentes a "fezes" e ao próprio “acto natural de defecar”. Leiam por vossa própria conta e risco:

Vou começar com a primeira peripécia do blogue. Bem fresquinha porque aconteceu hoje, sim hoje. Pois bem, vieram cá dois picheleiros para me arranjar a sanita de apoio à sala que estava sempre a verter. Então temos mantido a água fechada. (A história promete, pensam vocês). Os senhores apareceram de repente, não estava a contar que viessem tão cedo, mas pronto, paciência. Eles chegaram, bom dia, como está, tudo muito bem.

Entraram, perguntaram onde era a sanita e para lá fomos nós muito felizes da vida. Eis que um dos gajos me levanta a tampa da sanita. Que vejo eu? Claro. Um bruto de um cagalhão que quase nem cabia lá dentro. (What else? diria o Clooney.) Parecia um menir! Ainda se via o rasto castanho por onde tinha escorregado e tudo. Ainda pensei em dizer-lhe que devia ter sido o meu filho de 3 anos pois mais ninguém tem usado a sanita, mas não disse nada. Achei que poderia tornar a situação mais embaraçosa (como se isso fosse possível) e ia parecer uma desculpa desesperada de uma dona de casa que caga à grande e à portuguesa, mas eles com certeza pensaram que fui eu, claro! Até porque só cá estava eu e o meu filho de 23 meses e uma monstruosidade daquelas não sai do cu de um bebé de 90 cm. É senso comum. Também me pareceu um golpe baixo atirar as culpas para cima de um menor que por acaso até é meu filho.

Ninguém disse nada e limitámo-nos os três a olhar para aquele elefante castanho e fingir que lá não estava nada... Até o meu filho de 23 meses aparecer, dar dois saltinhos de euforia e gritar enquanto apontava para a sanita: CACA!!! Naquele momento, meus senhores, desejei morrer.

*Este texto NÃO foi escrito ao abrigo do novo Acordo Ortográfico

Ora cá estou eu!

Parece que conto cenas engraçadas, dizem elas. Nem sei se deva considerar o argumento um elogio, porque me limito a contar episódios da minha vida o que me faz repensar todo o meu percurso existencial, mas adiante que se faz tarde... Após vários pedidos (e subornos com coisas altamente açucaradas) lá me decidi a criar uma coisa destas que agora toda a gente parece ter. Um “blog” ou “blogue”, aportuguesadamente falando (como a “pizza” que agora é “piza” e o “bowling” é “bólingue” e “cartão de cidadão” é “cartão de cidadania”). E penso possuir o perfil ideal, pois tal como essa gente toda não tenho nada para dizer e por isso mesmo acho que o meu público-alvo está perfeitamente garantido, porque fartos de gente que têm sempre coisas para dizer andamos nós todos. Não tarda nada estou a ser entrevistada pelo Goucha sobre a quantidade imensa de coisas que não tenho para dizer. Ui é que vai ser! Já me estou a imaginar a assinar autógrafos ao lado da prateleira das fraldas tamanho 4 Nene na mercearia dos meus sogros, enquanto a Dona Clotilde me pede para tirar uma “selfe” com um saco de grelos na mão. Tendo isto sucesso, como todos me garantem que terei, talvez seja este ano que compre o bendito Massajador de Pés que ando a namorar na Worten desde que me lembro de ter pés (que foi mais ou menos na mesma altura que o meu filho mais velho decidiu começar a andar). E pronto é assim a apresentação desta coisa. Até que não correu mal de todo :)